22 de novembro de 2013

A GESTÃO DE NARCISO

Quando Narciso se olhou no reflexo das águas de um lago e se apaixonou por sua própria imagem, não imaginava a cegueira que um mito poderia causar. Uma diretoria apaixonada por sua própria imagem não percebe os arranhões, os pontos falhos, trincados, cegada como está por sua própria imagem no espelho. Não percebe, acima de tudo, que a imagem que enxerga é a sua própria, e não a da empresa. Uma diretoria apaixonada por sua própria imagem quer acreditar que toda a crítica, toda a denúncia, toda a ação contrária às suas intenções é um ataque à imagem da empresa. Uma diretoria que se ama, que se autoidolatra, jamais compreenderá ou admitirá que uma ação civil contra os seus atos, capaz de ser noticiada na mídia, possa ser um aviso necessário para corrigir o rumo, para evitar uma mancha na imagem de sua própria gestão no espelho. Antes disso, ela precisa encontrar um culpado, desviar a atenção, anunciar que algum cavaleiro do apocalipse quer manchar a reputação da empresa, esquecendo-se que a empresa possui uma história muito maior do que o tempo de duração de sua gestão.
Ao não se preocupar com sua própria reputação ou querer confundir a reputação de sua gestão com a da empresa, a diretoria quer convencer os empregados a aceitarem seus atos, ainda que denunciados pela imprensa, ainda que julgados descabidos em instâncias superiores, como se fosse incapaz de erros que podem conduzir a empresa a rumos perigosos. Afinal de contas, uma diretoria que promove políticas insensíveis ao sofrimento psíquico de trabalhadores, fragiliza a operação do sistema elétrico, cria condições de terceirizações generalizadas, facilita a entrega de seus investimentos e a chance de aquisição de novos ativos a parceiros privados precisa entender, antes de tudo, que a reputação de uma marca não é algo medido apenas por acionistas, mas também pela população, da qual os seus trabalhadores fazem parte.
À beira de a Eletrosul completar 45 anos, seus empregados já compreenderam que uma imagem e uma reputação se constroem ao longo de muito tempo, que uma marca não é apenas um desenho que qualquer gestão equivocada possa borrar, que o valor da marca de uma empresa é calculado com base no seu patrimônio físico (instalações, mobiliário, equipamentos...), mas principalmente no seu patrimônio humano, os seus trabalhadores. Porque os heróis são como mitos: só se tornam heróis por morrerem por uma causa, já trabalhadores são aqueles que, longe de serem heróis, são seres humanos que necessitam todos os dias acordarem e se deslocarem até seu local de trabalho para garantirem o sustento de sua família, enfrentando dificuldades e adversidades, mas esperando serem tratados com o respeito e dignidade que merecem para, só assim, espalhar com orgulho aos quatro ventos uma boa imagem e reputação de sua empresa que dependem – em grande parte, das decisões que são tomadas pela diretoria.
Autor: INTERSUL

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